Um casal apresentou os sintomas da doença após ingerir peixe. A mulher foi internada na UTI e precisou passar por hemodiálise DO JO...
Um casal apresentou os sintomas da doença após ingerir peixe. A mulher foi internada na UTI e precisou passar por hemodiálise
DO JORNAL DO COMMÉRCIO
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O cardápio simples e tradicional escolhido por um casal do Recife para o almoço se transformou em pesadelo para toda a família. Há quase três semanas, após preparar e comer em casa um peixe da espécie arabaiana, um policial civil de 49 anos e a esposa dele, uma professora também de 49, sentiram fortes dores musculares e foram internados em um hospital particular da cidade. Além das dores, a urina dos dois mudou de cor, ganhando uma tonalidade bastante escura, levando a crer que podem ser dois casos da Doença de Haff, ou"Doença da Urina Preta", e que acometeu dezenas de pessoas na Bahia e no Ceará entre o final de 2016 e o início de 2017. Diante de todos os sintomas e exames feitos no casal, a Secretaria Estadual de Saúde, em nota emitida na manhã desta terça-feira (1º), informou que os casos foram notificados pelo hospital particular e estão sob investigação.
A mulher piorou e foi transferida para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), onde fez hemodiálise e permanece internada. Exames também apontaram a elevação da enzima CPK em amostras de sangue dos dois pacientes.
A ingestão do peixe possivelmente contaminado pelo casal ocorreu no último dia 13. "Eu tinha saído do trabalho, comprei o peixe perto do Hospital Getúlio Vargas e levei para casa. Temperei apenas com limão, sal, fritei e comemos no mesmo dia com arroz e verdura. Eu comi duas postas e ela outras duas”, detalha o policial que, de acordo com os médicos, reagiu bem ao tratamento e recebeu alta sete dias após a internação. Segundo ele, a mulher foi a primeira a apresentar os sintomas da doença. “Não era a primeira vez, sempre comíamos peixe. O problema é que à tarde, minha esposa começou a reclamar de dor no pescoço”, lembra. O martírio da professora se estendeu até a noite, quando o esposo decidiu levá-la ao hospital. “As dores foram aumentando e ela não conseguia respirar direito. Ficava puxando o ar com dificuldade. Fomos ao hospital, mas o médico achou que poderia ser torcicolo, colocou um colete, voltamos para casa, mas a dor não passou”.
Ao acordar no dia seguinte, a mulher permanecia reclamando e o marido também começou a sentir dor. “Parecia que tinha jogado a noite todinha, pelo jeito que estava com as pernas cansadas”, compara. “Decidi voltar para o hospital com ela, mas o braço travou e não consegui nem dirigir o carro”, lembra o policial que, após chegar ao Real Hospital Português (RHP) de táxi, foi internado ao lado da esposa. Com muita dificuldade para respirar, ela foi transferida para a UTI em seguida, onde ficou por quase uma semana. A equipe médica informou que manterá a mulher internada por mais alguns dias, com previsão de alta para esta semana. “Era uma dor horrível”, afirma o policial que não consegue tirar da memória os momentos de angústia devido às incertezas de não saber o que estava acontecendo. “Ninguém sabia o que era. Pensei que minha esposa fosse morrer”, lembra.
Em nota, a SES informou que orientou o hospital a coletar o material diagnóstico para encaminhar ao Laboratório Central de Pernambuco (Lacen-PE) para que sejam feitas as análises. A Secretaria ainda disse que está em contato com o Ministério da Saúde para discutir do caso.
Notificação
Segundo o médico responsável pelo setor de epidemiologia do RHP, Filipe Prohaska, um dos indícios de que o casal havia contraído a Doença de Haff se deu a partir da coleta de sangue dos pacientes e a observação para o aumento da enzima CPK (creatinofosfoquinase), que mede o grau de lesão no músculo. O valor de referência é 170, mas os dois pacientes apresentaram valores acima de 30 mil. “Existem outras doenças que alteram o CPK, como a leptospirose. Inclusive, tivemos dúvida no início, mas a sorologia para leptospirose deu negativa”, informa o infectologista, confirmando o resultado do exame que saiu nessa segunda-feira (31).
Com o resultado negativo para leptospirose, de acordo com o médico, o Núcleo de Epidemiologia (Nepi) do RHP notificou a Secretaria Estadual de Saúde (SES) e o Ministério da Saúde o caso como “suspeito” ainda na tarde da segunda-feira. “Um dos fatores que complica o diagnóstico é que não existe exame que confirme esta doença. Existem critérios que são preenchidos como dor no corpo, mialgia (inflamação muscular intensa) e a urina que fica escurecida. E todas essas características foram registradas nos dois pacientes. Existe também um quadro comum de insuficiência renal, que a mulher teve. Além do fato de ter havido a ingestão de peixe horas antes do início dos sintomas”, explica o médico que tem acompanhado o casal.
O infectologista acredita ainda que o caso do policial e da professora seja isolado, pois não há informações de outros casos semelhantes. “É uma doença que pode ser confundida com outras e pode haver subnotificação, mas mantenho contato com colegas de outros hospitais e não houve registro nenhum. Acredito que, se fosse um problema no lote do peixe, outras pessoas já teriam aparecido com os sintomas”.
Urina Preta
Um dos aspectos mais populares da Doença de Haff, ou Mialgia Aguda, é o escurecimento da urina dos pacientes. De acordo com o médico Filipe Prohaska, essa alteração se deve à lesão na musculatura. “O rim tenta limpar as impurezas e a urina muda de cor”, explica. O médico lembra que, com o surto de Doença de Haff na Bahia no verão, os pesquisadores chegaram a suspeitar que a anomalia estivesse sendo causada por algum vírus. “Poucos vírus causam o escurecimento da urina e foram feitos testes que deram negativo para todos os vírus”, afirma.
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